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Márcia Aparecida Giuseppin Camargo e Gilberto Vieira de Camargo – “Neste mundo globalizado de muita tecnologia, a família se distanciou, principalmente pais e filhos”

 

Durante a semana as três paróquias de Bariri estão promovendo a Semana da Família. Para tratar do assunto, o Candeia ouviu o casal Márcia Aparecida Giuseppin Camargo, 55 anos, e Gilberto Vieira de Camargo, 61 anos, um dos organizadores da programação. Segundo eles, hoje não é fácil ser família diante de conflitos, da violência e da tecnologia, que acabou por distanciar as pessoas. O casal teve três filhos: Alan Gabriel Camargo; Alison Gabriel Camamargo; e Jonathan Miguel Camargo. Gilberto foi por 10 anos catequista da crisma e coordenador da Campanha da Fraternidade. O casal atuou como membro da equipe dirigente do Grupo dos 5 e casal ligação setorial do ECC. São casal palestrante do ECC do curso de noivos. Por 12 anos atuaram como coordenadores regionais da Pastoral Familiar. Atualmente são coordenadores dessa pastoral do Santuário Nossa Senhora Aparecida, de Bariri. Gilberto faz parte do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Bariri, é membro-fundador da Associação Cultural Quilombo e atua como conselheiro tutelar.

 

Candeia – Comente sobre o tema escolhido para a Semana da Família deste ano (Eu e minha Casa Servimos ao Senhor).

Márcia e Gilberto – O tema escolhido foi tirado da leitura do Livro de Josué, 24:15: Ele foi eleito por Deus para conduzir o seu povo e escolheu com sua família servir a Deus. E nós que somos de Cristo e pertencemos à sua igreja também temos que fazer esta escolha; servir não com o caráter de submissão e, sim, servir a Deus porque ele nos traz paz e alegria a nossas famílias. Josué fez a sua opção e nós temos que saber o que queremos para as nossas famílias, certamente é seguir Jesus, que é caminho, verdade e vida. A reflexão proposta revela a necessidade de que as famílias façam a escolha certa e que a igreja as ajude neste processo. Vivemos em um mundo em que existem muitas opções para que nos afastemos de nossas famílias. Que possamos descobrir e aceitar o chamado de Deus para cada pessoa, para cada família, e a família é um projeto importante de Deus, que ama a nossa família e quer restaurá-la. Quando voltamos o nosso coração a Deus, nossa família é preservada dos dilúvios deste mundo, porque passamos a experimentar seu reino no cumprimento das promessas, se assumirmos esse compromisso, de servir somente a Deus. No mundo de hoje há muitos deuses; por isso temos que fazer uma escolha madura, pois é nossa família que está em jogo. O aprendizado desta reflexão é que o serviço é um forma bonita de a gente viver a nossa vocação, o nosso estar a serviço de Deus significa estar a serviço da comunidade, dos irmãos e irmãs,

 

Candeia – Diante da pandemia do novo coronavírus, qual sua avaliação sobre a participação da comunidade?

Márcia e Gilberto – Apesar dos esforços, em meio a informações e desinformações, por parte dos governantes e da comunidade, além de corrupção, eu vejo uma grande parte da comunidade fazendo a sua parte, seguindo os protocolos, mas infelizmente uma outra parte que insiste em não colaborar, contribuindo ainda mais para elevar os altos índices de disseminação da doença. É certo que ninguém estava preparado para tal pandemia nesta dimensão. Eu vejo muitas iniciativas de solidariedade por parte de empresas, ONGs e outros, mostrando que o povo brasileiro é muito solidário, tem feito muita coisa para ajudar principalmente os mais necessitados e desempregados neste momento.

 

Candeia – Em sua opinião, quais os efeitos dessa pandemia na vida da comunidade?

Márcia e Gilberto – Entendemos que a pandemia já causou muitas mudanças e que teremos que rever, repensar, nossas vidas. A Covid vai rever valores e mudar hábitos da sociedade e, com isso, mudando o nosso cotidiano. É certo que o mundo não será mais o mesmo, as nossas vidas vão mudar muito daqui para frente. Houve mudanças que o mundo levaria anos ou décadas, mas estão sendo implementadas em meses. Vemos também o fortalecimento de valores como solidariedade e empatia. As transformações serão inúmeras, pois uma crise como essa pode e vai mudar valores.

 

Candeia – Como analisa o posicionamento da Diocese de São Carlos e da própria Igreja Católica diante do isolamento social devido à pandemia?

Márcia e Gilberto – Vemos uma grande preocupação de nosso bispo, Dom Paulo Cezar, em cumprir o que nos pedem as normas do governo estadual, conforme a nossa classificação de risco, em que se encontram nossa diocese e nossa cidade. Ele tem emitido comunicado orientando os padres bem como a comunidade sempre pensando na segurança dos fiéis. Vemos que neste momento a igreja está muito sensível a tudo o que esta acontecendo, principalmente as missas têm sido de forma restrita, sendo transmitidas de forma virtual para nos assegurar o distanciamento e nossa proteção.

 

Candeia – Como surgiu a ideia de unir as três paróquias para a realização da campanha? Qual sua avaliação?

Márcia e Gilberto – Há alguns anos participamos de um evento em Jaú, onde todas as paróquias se uniram num ginásio de esportes numa grande missa de encerramento; foi muito bonito. Esse sonho ficou no nosso coração, inclusive até tentamos no ano passado, mas infelizmente não foi possível. Neste ano deu certo, os padres aceitaram numa boa, inclusive a Santa Luzia já estava com a programação dela pronta, mas abriu mão para juntos fazermos uma grande Semana da Família, mesmo que virtual. Fizemos uma reunião com os movimentos familiares da cidade, o ECC (Encontro de Casais com Cristo), as equipes de Nossa Senhora e as pastorais familiares. Dividimos as tarefas para a semana e assim está sendo feito. Quem sabe esta iniciativa pode se repetir em futuras celebrações e que cada família aprenda o valor de caminharmos juntos.

 

Candeia – Quais os desafios da família no mundo atual?

Márcia e Gilberto – São muitos e até fica difícil enumerá-los. Neste mundo globalizado de muita tecnologia, a família se distanciou, principalmente pais e filhos. Está tudo muito rápido; os mais velhos tentam, mas não conseguem acompanhar toda essa mudança. E essa pandemia trouxe de volta as famílias para casa. Hoje há muitos conflitos familiares, precisamos superá-los com diálogo e oração. Não é fácil ser família hoje. Um grande desafio é ensinar, criar nossos filhos de forma cristã, prepará-los para enfrentar esse mundo afora que adentra em nossos lares com venenos que aos poucos vão destruindo toda uma formação moral e ética que ensinamos. E as pessoas têm que saber conviver com as diferenças. É preciso respeitar a individualidade de cada um. A formatação da família dos últimos tempos mudou significativamente; junto com as transformações também aumentaram os desafios para manter uma boa relação entre os familiares. Sem contar os obstáculos que a vida contemporânea trouxe ao cenário doméstico, com longas jornadas de trabalho, por exemplo. Temos o desafio de educar num mundo tão violento. Temos que pensar muito antes de tomar decisões. Temos que procurar ensinar o respeito. A família hoje é bombardeada pela TV. João Paulo II já nos alertava que o futuro da humanidade estava em perigo, que tudo isso era uma (cultura da morte); o maior desafio é viver o amor, isso significa concretamente doar-se, perdoar, antecipar o outro.

 

Candeia – No início do ano passou a atuar como conselheiro tutelar. O que destacaria do trabalho até o momento?

Márcia e Gilberto – É um trabalho desafiador, envolve famílias e principalmente crianças e adolescentes. Nós entramos no seio das famílias, tentamos amenizar os conflitos familiares da melhor forma. Às vezes somos incompreendidos, pois temos que tomar decisões que muitas vezes desagradam a alguns, mas é o que se tem que ser feito para proteger as crianças e os adolescentes. Por isso, atuamos em colegiado, trocamos opiniões, nos consultamos para não errar, pois tratamos de assuntos sempre delicados. É certo que em tempos de pandemia nossos trabalhos foram prejudicados. Ser conselheiro tutelar requer bom senso, discernimento, encaminhamento de demandas, sugerir, orientar, ser uma ponte diante de ameaças de violações dos direitos da criança e do adolescente. Até o momento temos procurado estar sempre presente quando acionados ou se recebemos alguma denúncia, ajudando nas soluções dos casos da melhor maneira. Uma novidade neste ano é que agora fazemos reuniões virtuais com toda rede municipal e Judiciário, assim podemos discutir melhor os casos com psicólogas, assistentes sociais e funcionários. Temos feito capacitação para melhor entender e solucionar os casos.