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Quem a vê hoje, sempre sorrindo e vestida de cores vivas e colares, custa a acreditar que ela já experimentou o lado mais perverso da vida de abandono – Divulgação

Pouco se sabe sobre ela. O nome completo é Sebastiana Batista Bueno, nasceu em Bariri, tem 73 anos, é filha de Antonio Batista Bueno e Maria Aparecida de Oliveira, tem quatro irmãos, é solteira e tem um filho. Não mantém contato com nenhum dos familiares. Teve um grande amor na vida, o João Gradin, com quem dividia a guarda de três cachorros.

Apesar das poucas informações, “Tianinha”, como é chamada, é talvez a ex-moradora de rua mais conhecida em Bariri e tem uma das histórias de vida mais incríveis entre os baririenses.

Quem a vê hoje asseada, cabelo e corpo bem cuidados, sempre sorrindo e vestida de cores vivas, maquiada e com muitos colares, custa a acreditar que ela já experimentou o lado mais perverso da vida pária e do abandono.

Durante anos viveu nas ruas sem acesso ao que se considera mínimo para a dignidade humana: não tinha casa nem teto, comida, cuidados, assistência, atenção básica de saúde, vulnerável a toda espécie de risco. Salvo algumas famílias amigas que ofereciam cuidado temporário de alimentação, banhos e roupas.

Por obra do destino para os céticos ou por obra divina para os crentes, ela um dia, após muitas tentativas, finalmente aceitou sair da rua e obter moradia. E assim, desde 2012, Tianinha recebe a graça de envelhecer no Lar Vicentino de Bariri, com atenção, respeito e boa interação com os companheiros e cuidadores.

Com a ajuda da assistente social, Sonia Regina Grigolin Maciel, Candeia entrevistou a residente para matéria referente ao Dia Nacional do Idoso, comemorado em 1º de outubro.

 

Bairro Queixada

 

Tianhinha conta que morava no sítio com os pais e quatro irmãos (Nelson, Luís, Sonia e Luzia). Diz que ajudava em casa e que ia para a escola no Bairro Queixada, em companhia da irmã, Luzia. Apesar da frequência escolar, não é alfabetizada, o que confirma uma aparente dificuldade cognitiva.

Não relata de que forma acabou como moradora de rua. Sua memória dessa época tem a presença do companheiro João Gradin e dos três cachorros, que nunca saíam de perto e que, provavelmente, os protegiam de perigos ou ataques. Tianinha admite que tinha muito medo que eles e os cachorros sofressem agressões. Conta que dormiam em casas velhas e/ou construções e que para sobreviver dependiam de “ajutório”.

Por volta de 2007, João faleceu e as tentativas para que abandonasse a rua se intensificaram. Ela, no entanto, optou por permanecer, mantendo o vínculo com amigos e conhecidos, que, sabendo de sua história de vida, garantiam o mínimo de alimento, banho e troca de roupas.

 

Ingresso no Lar Vicentino

 

O ingresso de Tianinha no Lar Vicentino somente veio após várias tentativas e esforço coletivo da equipe vicentina e da Diretoria de Ação Social do município, através do Centro de Referência em Assistência Social (Cras).

Eles acompanharam a situação de vivência de rua de Tianinha e a estratégia que deu certo foi trazer a idosa aos poucos. Foi permitido que ela ficasse no Lar por curtos períodos, aumentando gradativamente os horários de permanência, possibilitando que ela, ao seu tempo, se integrasse com os outros residentes e com as equipes de trabalho do local.

Hoje, ela cumpre todas as atividades oferecidas pela instituição de longa permanência para idosos. Tem certa independência e reside em uma das casas na área externa do local. Divide com mais duas residentes e, segundo as companheiras, é de fácil convívio. Interage bem em todas as atividades propostas.

Segundo a equipe do Lar Vicentino, apesar de traços de deficiência intelectual, Tianinha realiza as atividades diárias, sem precisar de ajuda. É vaidosa, alegre, comunicativa e participa com assiduidade das celebrações na Capela do Asilo, inclusive com reverência ao Santíssimo Sacramento.

Devido à pandemia de Covid-19, Tianinha deixou de participar de algumas atividades que ela adora, como idas ao supermercado para compra de pão, mortadela e guaraná. Sente falta também das visitas à sorveteria.

O isolamento social ainda restringiu eventos e comemorações que ocorriam normalmente no Lar, assim como passeios e saídas externas não estão sendo realizados. Por isso, Tianinha e os demais residentes demonstram certo aumento no grau de ansiedade.

Além dos passeios, ela diz que está com saudades das pessoas que visitam a entidade, com doces, salgados e comemorações, como crianças e jovens escolares e equipes dos programas sociais.