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Noemi Rodrigues Bof

 

“Poderemos principalmente identificar as necessidades e demandas culturais da população, para que a partir do plano possamos desenvolver um planejamento concreto para o setor em Bariri”

 

Presidente do Conselho Municipal de Cultura e nascida em Ribeirão Preto, a designer e administradora de formação Noemi Rodrigues Bof, 33 anos, tem como prioridade a realização de Conferência Municipal para que seja formado o Plano Municipal de Cultura. Dessa forma, será possível identificar as necessidades e demandas culturais da população e, em seguida, desenvolver um planejamento concreto para o setor em Bariri. Na entrevista ao Candeia, ela fala dos prós e contras da cultura no município. Diz que uma de suas maiores realizações foi aprovar o projeto “Arte em Amarrio” pelo ProAc Editais, concorrendo com 400 projetos do estado de São Paulo inteiro, com uma nota de 9.7, deixando Bariri a frente de cidades como Campinas e Ribeirão Preto no ranking estadual. Outra conquista foi a reativação do conselho, tendo sido eleita em abril deste ano, cargo que não é remunerado.

 

Candeia – Recentemente você assumiu a presidência do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Bariri. Quais suas prioridades à frente do órgão?

Noemi – Mesmo com um imenso potencial na geração de renda, turístico e no desenvolvimento social que temos através da cultura aqui, vemos poucas ações públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável do setor em médio e longo prazo. Vemos, sim, ações pontuais, festas e comemorações, mas a cultura e sua abrangência são muito maior do que isso. Formar uma identidade cultural e turística, com ações que englobem a geração de renda e o desenvolvimento social, sempre foi um grande desafio para a gestão pública na história em nosso município. Parte pela falta de conhecimento na área e também parte da falta de visão e interesse pelo setor. O objetivo do conselho é auxiliar e cooperar com a gestão pública no desenvolvimento e execução de políticas culturais que visem o desenvolvimento sustentável de nossa cultura. Mas para garantir isso precisamos primeiro colocar a “casa em ordem”. Realizar uma nova Conferência Municipal e formar o Plano Municipal de Cultura para completar o Sistema Municipal de Cultura. Através da Conferência Municipal, poderemos principalmente identificar as necessidades e demandas culturais da população, para que a partir do plano possamos desenvolver um planejamento concreto para o setor em Bariri. É o que estamos trabalhando para fazer acontecer.

 

Candeia – De que forma o conselho pode atuar para valorizar os artistas locais? Em que setores culturais Bariri pode se destacar?

Noemi – A função do conselho é elaborar, acompanhar a execução, fiscalizar e avaliar as políticas públicas de cultura no município. Nosso maior objetivo é garantir essa valorização através dessas políticas culturais, sempre cooperando, auxiliando e fiscalizando o poder público para que isso aconteça. Bariri possui um imenso valor cultural. Podemos citar alguns que mais me chamam a atenção como identidade cultural de Bariri. O Amarrio, por exemplo, técnica artesanal centenária de nossa cidade que mistura o macramê e o abrolhos, teve grande destaque nacional no passado. Hoje a arte luta para sobreviver, graças às escassas ações públicas dos últimos anos, em fomentação no setor artesanal. Na história, podemos citar o Museu Mário Fava, atualmente um dos grandes atrativos turísticos de Bariri, que narra a maior aventura realizada por terra na história da humanidade. Temos também a Igreja Síria, que mesmo com condições precárias de conservação, ainda possui um enorme valor cultural, sendo umas das únicas sete existentes no Brasil. A música caipira, afinal somos celeiros dos grandes artistas Leôncio e Leonel. Também através de bandas de rock e pop rock, que giram o país, levando o nome de Bariri com grandes músicos, talentosíssimos. O potencial gastronômico, com nossa forte influência sírio-libanesa na identidade cultural daqui. Também somos fortes na cultura de rua, com grandes nomes nacionais, como o happer Colméia, também na capoeira, com o mestre Vandeco, entre outros nomes importantíssimos, incluindo a cultura afro. Enfim, tendo conhecimento e vontade, podemos atrair turismo, desenvolver pessoas, garantir renda, e mais do que isso, expandir horizontes, através da arte e da cultura de nossa cidade.

 

Candeia – Normalmente a área cultural não conta com muitos recursos financeiros do poder público. Como superar esse desafio?

Noemi – Infelizmente, não contamos com muitos recursos financeiros previstos no orçamento daqui, do município de Bariri. No Brasil, temos diversos programas de fomento, além de leis de incentivo que garantem bilhões de reais para subsidiar o setor cultural em todo o país. Por exemplo, o Estado de São Paulo recentemente disponibilizou, através do ProAc, 200 milhões de reais para municípios e fazedores de cultura, onde o recurso é acessado através de projetos culturais. Ou seja, o município, por ter essa escassez orçamentária no setor, precisaria buscar fontes de recursos fora, através de projetos e editais, que são disponíveis não somente para a cultura, mas também para outros setores, como para o esporte ou para o social, por exemplo. O que mais vemos em cidades pequenas é a dependência de apadrinhamento político para conseguir verbas extra orçamentárias, as famosas emendas parlamentares de deputados. Elas são importantes e bem-vindas? Claro que sim! Mas o ideal, seria não depender somente disso. Para conseguir acessar essas verbas, seria interessante se criar um departamento de elaboração de projetos. Ali, se faria o rastreio de editais e serviria também para auxiliar nas leis de incentivo, trazendo verbas suplementares ao município. Mas isso já cabe a administração pública adotar.

 

Candeia – Que projeções você faz para Bariri para o período pós-Covid-19?

Noemi – Com o Covid-19 o mundo mudou, e nossa cidade também. No setor cultural, que passa por paralisação pelo estado pandêmico, vemos a única alternativa de utilizar a internet como meio da fruição dos bens culturais. O teatro e o circo, por exemplo, tiveram que se adaptar e criar mecanismos audiovisuais para apresentações. Os músicos acharam como alternativa realizar lives nas redes sociais. Os artistas e artesãos tiveram que descobrir como vender sua arte pela internet. Enfim, a internet teve que ser incorporada no planejamento de manifestações culturais. Isso com certeza será cada vez mais forte daqui pra frente. Vemos também uma grande necessidade dos artistas e agentes culturais se profissionalizarem, se tornando protagonistas na busca através de leis de incentivo e fomento direto, se quiserem continuar produzindo seus bens culturais. A escassez de investimento municipal está cada vez mais latente, caindo por terra a antiga ideia de que a prefeitura pode subsidiar, indiscriminadamente e aleatoriamente, os mecanismos para produzir e propagar os artistas locais. Infelizmente, através dos anos, os investimentos municipais em ações de desenvolvimento ter se tornado cada vez mais ausentes ou excluídos do planejamento pela gestão pública, restando apenas nos organizar e nos profissionalizar para o avanço da cadeia cultural de nosso município.

 

Candeia – Como produtora da área cultural, que eventos pretende realizar em junho, mês de aniversário da cidade?

Noemi – Este mês estamos realizando o Projeto “Arte em Amarrio”, contemplado pelo ProAc Editais, que visa difundir e propagar as artes manuais desta técnica centenária baririense. No projeto, fizemos a criação de uma plataforma digital com uma exposição online em realidade virtual, a primeira realizada na cidade. Também estamos realizando as oficinas de Amarrio, com a artesã Maria Da Dalto, tendo início no dia 31 de maio e vai até o dia 11 de junho. As fotografias e os vídeos das aulas foram feitas por Aline Rodrigues. Tanto a exposição como as videoaulas também estão disponíveis no site www.arteemamarrio.com.br. Após o término das oficinas, daremos início às oficinas de empreendedorismo feminino, visando a capacitação e profissionalização das artesãs. Também teremos o Projeto “Pinte e Borde o seu autorretrato”, pelo ProAcLab, onde ensino a fazer o seu autorretrato através de uma técnica de aquarela e bordado que desenvolvi especialmente para o projeto. A videoaula tem duração de 55 minutos e ficará disponível no canal Noemi Rodrigues Arte (youtube.com.br/c/noemirodriguesarte). Este projeto busca promover o empoderamento, o autoconhecimento, a confiança e autoestima de mulheres através da arte. A gravação e edição do vídeo foi realizada pela Aline Rodrigues.

 

Candeia – Como está a situação da Aldir Blanc em Bariri?

Noemi – Tivemos uma excelente notícia essa semana: A derrubada do veto do presidente Jair Bolsonaro, pelo Congresso Nacional, que vetava a utilização dos recursos nos municípios e estados não empenhados da Lei Aldir Blanc. Bariri recebeu no ano passado recursos da Lei 14.017/20, Lei Aldir Blanc, e não utilizou integralmente o repasse federal, deixando pouco mais de R$ 100 mil em caixa para devolução a União, visto que o recurso não havia sido empenhado até 31 de dezembro de 2020. Até agora, estávamos aguardando ansiosamente a resolução do embrolho jurídico, tendo a chance da perda do dinheiro, em um momento tão difícil com a paralisação do setor cultural pela crise pandêmica. Mas felizmente, graças à pressão popular exercida nacionalmente, finalmente Bariri, como outras cidades e estados, poderão utilizar o recurso para fomento da cultura em seus territórios. Agora cabe à administração verificar o que pode ou não ser feito no planejamento, de acordo com a nova lei 795/21, e na forma que será realizada a utilização da verba. Estaremos acompanhando.