Composição 1_1
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A baririense Ângela Filomena Devito, 37 anos, é médica pediatra e atende no setor de emergência pediátrica em unidades de saúde de Ribeirão Preto. É formada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), onde também fez residência médica em Pediatria. Antes também cursou Enfermagem na Unesp/Botucatu.
Mora sozinha, é independente, trabalha, ainda estuda e cuida de seus gatos. “Eu amo fazer o que eu faço, faço com gosto e alegria”, define bem.
Quem vê essa vida plena não imagina os obstáculos que Ângela já superou. Em 2009, quando cursava pela primeira vez Medicina, em Araraquara, recebeu o diagnóstico de déficit na função dos rins, eles estavam paralisando. Era uma das complicações do diabetes, doença que sabia ser portadora desde 1994.
Conta que quando se descobriu diabética, iniciou o uso de insulina. Na época, não existiam os recursos hoje disponíveis, como acesso fácil e rápido às informações pela internet, às medicações e às tecnologias para controle de glicemia. “Era quase impossível, por exemplo, medir a glicemia em casa com precisão. Além disso, a pouca oferta de produtos sem açúcar no país vinha acompanhada de baixa qualidade e péssimo sabor”, Ângela descreve.
Passou a infância comendo chocolates e outras guloseimas sem açúcar que precisavam ser encomendados em São Paulo, por telefone, para uma importadora, e que eram entregues pelos Correios dias e dias depois.
Já na adolescência, fase típica de rebeldia, apesar de praticar exercícios físicos, mantinha dieta irregular. Consumia os alimentos errados, em quantidade exagerada, além de não gostar de frequentar as consultas médicas. Não seguia as recomendações, o que, futuramente, lhe trouxe prejuízos.
Foi em 2004, quando iniciava a Enfermagem em Botucatu, que as complicações do diabetes começaram a aparecer com mais frequência. No final do curso, os sinais – como um aumento da pressão arterial – eram evidentes.
Por isso, em 2009, com a iminente paralisação dos rins, veio a evidência e o alerta: reconhecer que as complicações do diabetes se intensificaram não somente pelas dificuldades de controle, mas também pela sua falta de comprometimento.

A mãe e a família

Ângela é filha do casal Sueleni Maria Lisboa Devito e Antonio Francisco Devito – a Su e o Toninho da Pizzaria Formosa. Tem dois irmãos: o Diego e o Giovane. “Ninguém sabe mais da importância da família como eu”, enfatiza.
Em dezembro de 2009, já prestes a precisar de hemodiálise, Ângela conta que Sueleni encontrou (milagrosamente, através da internet, que ela mal sabia usar) um médico, na cidade de São Paulo, que realizava transplantes.
O médico foi direto: era caso de transplante e quis saber se alguém da família se dispunha a ser doador do rim. Sueleni fez o teste e, felizmente, o resultado foi 100% de compatibilidade.
Em março de 2010, um dia após o aniversário de Ângela, a cirurgia foi realizada, com sucesso, e Sulieni deu a vida pela segunda vez para a filha.
Ângela relata que a mãe, mesmo não podendo cuidar diretamente, pois também estava operada, se fez presente em todos os momentos. O período foi difícil, não somente pela questão de saúde, mas pelo contexto: abandonar o curso de Medicina, após tantos anos de luta e estudo. “Em nenhum momento minha mãe soltou a minha mão”, ressalta.
Quando a saúde se restabeleceu, no ano seguinte ao transplante, fez novo vestibular e, pela segunda vez, passou em Medicina, em uma faculdade pública, agora em Ribeirão Preto, onde se formou e concluiu especialização em Pediatria.
Leva vida normal, sem nenhuma limitação. “A única ressalva é a medicação do transplante que deve ser tomado diariamente, no mesmo horário”, conta.
Ângela diz que tem certeza que, se precisasse, a mãe faria de novo. “Nenhuma verdade é tão absoluta quanto o amor de mãe. Ela vai desde a oração até os atos heroicos, como se colocar sob o risco de tirar (literalmente) um “pedaço” seu para ceder ao filho”, comenta.
A médica ainda acrescenta que, mesmo neste tempo de comemoração do Dia das Mães, seu pai, Toninho, não pode ser esquecido. “Sempre esteve ao nosso lado nesse processo. Sempre segurando as pontas, sempre cuidando para que tudo acontecesse da melhor maneira possível”, finaliza.

Ângela perdeu os rins para o diabetes, mas ganhou nova chance de vida com a doação da mãe e o transplante.

Da Redação