Em 2024, a cidade deve cumprir programação especial em comemoração aos 70 anos da presença em Bariri das irmãs da Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret, juntamente com o resgate das obras locais de sua fundadora, Madre Leônia Milito. Há ainda a iminência da etapa final do processo de beatificação da religiosa. Para falar sobre o assunto, o Candeia entrevistou Irmã Marina Delphito Alves, 79 anos, que desde 2018 está à frente do Lar Vicentino de Bariri, uma das instituições locais que contam com a presença das irmãs claretianas, juntamente com a Creche Madre Leônia. Ela comenta sobre a chegada das religiosas, em agosto de 1953, no então “Asilo São Vicente de Paulo” de Bariri; relata as dificuldades iniciais e como o sucesso das obras criadas em Bariri resultou na fundação da congregação claretiana. Irmã Marina adianta eventos que devem integrar a programação dos 70 anos; e conta do trabalho e dos desafios enfrentados pelo Lar Vicentino ao longo dos anos. Segundo a religiosa, o processo de beatificação de Madre Leônia se encontra em fase final de elaboração.
Candeia – Relate como foi a chegada das religiosas para iniciar os trabalhos no então “Asilo São Vicente de Paulo” de Bariri
Irmã Marina – Motivadas pelo santo Pio XII e a pedido do povo baririense por intermédio de padre Nelson Romão, natural daqui, no dia 9 de agosto de 1953, são acolhidas com grande solenidade as irmãs Auxilia di Lucca, Rodolfa d’Amélio, Recarda Stasi e Ida Belpério, acompanhadas por Madre Leônia Milito, responsável pelas missionárias e madre Tarcisia Gravina e Lidia Stasi que já se encontravam em missão no Lar Vicentino de Matão, da congregação franciscana das Pobres Filhas de Santo Antônio. Após a acolhida, da Igreja Matriz elas foram conduzidas em procissão até o “Asilo São Vicente de Paulo”, certas de que encontrariam crianças a serem amparadas e cuidadas pois a palavra asilo em italiano significava “Escola Materna” Grande foi a surpresa em encontrar pessoas idosas as quais seriam cuidadas e amparadas por jovens que haviam apenas terminado a formação. Após contatos com as autoridades religiosas e civis, madre Leônia deixa as jovens irmãs que sabiam apenas dizer “bom dia” em português. Mas, com a boa e santa professora dona Martha Hadad começaram a balbuciar nosso idioma.
Candeia – Como foram os primeiros anos de missão e como surgiu a Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret?
Irmã Marina – Rapidamente as vocações começam a florescer e logo se reúnem em Bariri para se preparar para o noviciado em Catanduva, sendo quatro jovens baririenses, uma de Mirassol e uma de Ariranha. As irmãs eram pobres, simples e próximas do povo e isso atraia a simpatia de todos. Várias comunidades foram abertas, mas as dificuldades não custaram a chegar. O governo geral na Itália reclama a volta das irmãs italianas. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) confia a situação das irmãs já com centenas de assistidos e dezenas de vocações brasileiras ao padre claretiano Geraldo Fernandes Bijos, que logo se tornou o primeiro bispo de Lodrina (PR). Ele assumiu a causa das irmãs e com madre Leônia fundou a Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret, patrono cujo carisma missionário foi destinado aos mais pobres pelo anúncio da Palavra e o serviço da Caridade. Assim, a missionária claretiana é chamada a ir aos lugares mais difíceis com bondade, alegria e simplicidade, estando hoje nos cinco continentes e 18 países.
Candeia – O Lar Vicentino de Bariri foi fundado em 1950 e as religiosas chegaram em 1953. Como foram os primeiros anos de trabalho em Bariri?
Irmã Marina – O Lar Vicentino de Bariri situado no centro da cidade por uma grande área doada pelo senhor Osório Oréfice de feliz memória, foi construído pelo povo baririense e em 1950 foi doado à Sociedade São Vicente de Paulo. Diante da grandiosidade da obra a ser realizada e mantida, as Conferências Vicentinas sentiram a necessidade de solicitar religiosas que pudessem em parceria assumir a missão de administrar a grande obra recém fundada. Em 1953 chegaram em Bariri, sob demanda de padre Nelson Romão, com o qual trabalhavam em Matão assumiram a obra, tendo como primeira coordenadora Madre Auxilia di Lucca com mais cinco irmãs recém-chegadas da Itália (Nápolis). Inicialmente, as irmãs se encarregavam de todos os serviços da casa, cuidado dos idosos e campanhas nos sítios para angariar o necessário para mantê-los. Alguns anos depois as irmãs assumiram a coordenação da Casa da Criança, com 120 meninas de 0 a 18 anos. Logo depois, fundaram uma creche que funcionava nas dependências do asilo, onde hoje é o salão de festas.
Candeia – Um trabalho grandioso sempre marcado por muitos desafios, não é?
Irmã Marina – Sim. No início não havia exigências de idade para acolher pobres no Lar Vicentino e houve épocas em que acolheram famílias inteiras. Os residentes se ocupavam com as irmãs dos serviços da casa. No ano 2019, o Lar Vicentino passou por momentos difíceis de tensão com sua hierarquia, a qual destituiu a diretoria e impôs intervenção de vicentinos vindos de outras cidades. Após um ano, felizmente, tudo voltou a rotina normal. Um período muito difícil foi a época da pandemia de Covid onde nossos residentes foram retidos no recinto do Lar sem receber familiares. Muitos foram acometidos pela Covid mas poucos foram os casos graves.
Candeia – Como o Lar Vicentino é administrado e quais as fontes de manutenção?
Irmã Marina – O Lar Vicentino é ligado à sua própria hierarquia. Para sua manutenção tem o 70% do convênio com os residentes em condições de colaborar, além de iniciativas como leilão, rifas e festas. Devido ao alto custo para mantê-lo, solicitamos verbas públicas, mas são poucas. A prefeitura repassa R$ 54 mil por ano, o que equivale a R$ 100 mensais por idoso. A Diretoria tem a incumbência de procurar recursos para manutenção e todas as necessidades, além da admissão e demissão de funcionários, relações com o poder público. As irmãs têm a incumbência de toda a coordenação da entidade, como formação dos funcionários, zelar pela qualidade de vida dos residentes. Antes da pandemia tínhamos muitos voluntários, hoje são poucos os que aceitam o voluntariado.
Candeia – Como superar essa carência do voluntariado?
Irmã Marina – Procuramos trabalhar junto às pessoas que podem se tornar vicentinos, motivar pessoas a se tornarem vicentinos ou vicentinas. Para serem reconhecidos e terem maior autonomia face sua instituição. A carência de padres, irmãs e líderes também se faz sentir. Bariri cresceu muito nas periferias e as Igrejas como local são as vezes longe para o povo frequentar e por isso procuram as mais próximas. Procuramos divulgar a importância d o voluntariado em encontros das pessoas interessadas, nas missas, nas redes sociais.
Candeia – O Lar Vicentino prepara programação especial em comemoração aos 70 anos da presença das irmãs? Quais as atividades previstas?
Irmã Marina – Ainda estamos na fase de planejamento das atividades. Estamos preparando uma semana missionária em um dos bairros de periferia. Outra proposta é realizar uma roda de conversa com pessoas que conheceram madre Leônia, para resgatar a trajetória e liderança da fundadora da congregação, em especial nas obras em Bariri. Ainda há o projeto de contar a história e a grande contribuição das irmãs Martha Hadad e Isaura Prearo, que acompanhavam Madre Leônia em suas visitas e trabalho em Bariri. Devemos contar ainda com a presença de outras irmãs para o trabalho de divulgação de causa de sua beatificação. A programação ainda deve contar com a celebração de missa em ação de graças aos 70 anos da chegada das religiosas em Bariri.
Candeia – Como está o processo de beatificação de Madre Leônia?
Irmã Marina – O processo de beatificação de Madre Leônia se encontra em fase final de elaboração. São muitas as exigências, já temos quase trinta mil páginas escritas. Estamos na fase de análise e estudo das graças identificadas como miraculosas. Ultimamente no Brasil houve várias beatificações como sabemos. Cremos que seu processo esteja próximo de ser definido.
Box: Irmã Marina: 79 anos de idade, 62 anos de congregação
Irmã Marina Delphino Alves vai completar 80 anos no mês de setembro. Há 62 anos integra a Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret, com sede em Londrina. Atuou por 36 anos no serviço missionário na África, nos países Costa do Marfim e Togo, na África Ocidental, e Gabão, na África Central. Filha de Sebastião Delphino Alves, o Bastião Belarmino, e da dona de casa, Maria Aparecida de Jesus, teve seis irmãos. A certeza da vocação religiosa chegou aos 13 anos de idade e aos 16 anos entrou para o convento de Londrina. Quando completou os votos foi para a cidade de Matão. Durante a permanência no convento formou-se técnica de enfermagem. Depois fez obstetrícia e, por último, teologia em Roma. Em 1973, com 27 anos de idade, foi enviada em missão na África, primeiro na Costa do Marfim e, depois, no Gabão. Trabalhou durante 17 anos em hospitais, depois atuou na área administrativa e de formação de religiosas africanas. Retornou à Londrina para trabalhar como conselheira e coordenadora das claretianas. Integrou o governo provincial por 15 anos. Em 2014 aceitou o desafio de voltar para o oeste da África, no país do Togo. Em 2018, retornou para o Brasil e em 2019 assumiu a coordenação do Lar Vicentino de Bariri