Na manhã de segunda-feira, dia 10, a prefeitura de Bariri decidiu pela intervenção na Santa Casa de Bariri (leia box). A justificativa é que a gestão do hospital vinha sendo feita de modo a não garantir um bom atendimento de saúde à população de Bariri e também de cidades da região.
Para a função de administrar a unidade de saúde foi nomeado Fábio Zenni, que ocupava o cargo de diretor municipal de Saúde desde a posse de Francisco Leoni Neto (PSDB) como prefeito de Bariri. A pasta agora é gerida por Samara Ferro Jacó de Carvalho, que atuava como chefe de Controle, Regulação e Serviços da Saúde.
Na tarde de anteontem, dia 13, Zenni recebeu a reportagem do Candeia. Após tomar conhecimento prévio da situação do hospital, ressalta que a situação é muito complexa, principalmente no que se refere às finanças da Santa Casa e também ao fato de a antiga Organização Social Vitale Saúde dispor de outros CNPJs para administração de unidades em mais dois municípios.
O interventor aponta dívida superior a R$ 300 mil com a CPFL Paulista (responsável pelo fornecimento de energia elétrica), com a Vivo-Telefônica (serviço de telefonia), fornecedores, prestadores de serviço e atrasos nos pagamentos de INSS e FGTS a funcionários.
Conforme a proposta de intervenção, a nova gestão assume as receitas e as despesas a partir de 10 de setembro. Zenni buscará pagar os débitos pendentes e negociar dívidas com fornecedores.
O interventor ressalta que há carência de funcionários, mas só irá decidir por novas contratações após diagnóstico que está sendo feito por consultor. O trabalho deve levar pelo menos 30 dias.
Ele acredita que é preciso fazer remanejamento dos espaços utilizados pela Santa Casa. Há várias salas que não estão sendo usadas.
Também será preciso investir na manutenção e compra de equipamentos. O hospital dispõe de apenas uma incubadora, utilizada de forma precária, e um eletrocardiograma. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e outros setores do hospital não possuem alvará da Vigilância Sanitária.
A respeito de emendas paralisadas por causa da falta da Certidão Negativa de Débito (CND), Zenni diz que o intuito é ingressar com ação na Justiça Federal a fim de que a Santa Casa possa receber os recursos e fazer as melhorias necessárias.
Nos próximos dias serão feitos serviços de limpeza, capina e pintura geral. Com o slogan “Nossa Santa Casa”, o interventor espera contar com a colaboração da comunidade em várias formas de ajuda.
Pronto-socorro
Neste fim de semana termina o contrato da prefeitura com o Instituto de Desenvolvimento de Gestão, Tecnologia e Pesquisa em Saúde e Assistência Social (IDGT) para gestão do pronto-socorro municipal.
A partir de amanhã, dia 16, a administração das urgências e emergências passa a ser feita pelo governo intervencionista.
Zenni explica que os plantões presenciais estão definidos. A maior carência é com a cobertura por especialistas.
Neste ano, a Justiça de Bariri julgou procedente ação do Ministério Público para que o PS contrate médicos nas seguintes especialidades: anestesista, clínica médica, pediatria, cirurgia geral e ortopedia. Os profissionais devem estar na unidade de saúde entre 15 minutos e meia hora, conforme a gravidade do caso.
De acordo com Zenni, até anteontem a única pendência na escala era com relação a pediatra.
Nas últimas semanas era recorrente a reclamação de que boa parte dos casos que necessitava de médicos especialistas era encaminhada para a Santa Casa de Jaú. E nem sempre o hospital jauense realizava o atendimento.
Intervenção é feita de surpresa
A iniciativa de intervir na Santa Casa de Bariri na manhã de segunda-feira, dia 10, era de conhecimento de poucos funcionários do primeiro escalão da prefeitura de Bariri. O objetivo é que o fator surpresa permitisse a entrada no prédio sem que houvesse alteração na rotina de trabalho do hospital.
O decreto nº 5.115 determinou a desabilitação da mesa provedora, da provedoria, da diretoria, administração e outros órgãos de gestão ou aconselhamento.
O então administrador da Santa Casa local, Antonio Marcos Carneiro Pereira, foi quem recebeu a íntegra do decreto das mãos do prefeito de Bariri, Francisco Leoni Neto (PSDB). Uma das primeiras medidas foi a troca das chaves de salas consideradas estratégicas.
Em entrevista à imprensa do lado de fora do prédio, o tucano comentou que nos dias anteriores teve reuniões com o Ministério Público (MP) e com o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Bauru. “A população não suportava mais a situação da Santa Casa”, disse ele. “Havia o risco de descontinuidade do serviço.”
Em princípio, a intervenção durará 180 dias, podendo terminar antes ou ser prorrogada. Foi montada Comissão Intervencionista Provisória, formada por membros de conselhos e entidades para acompanhamento das ações. A ideia é que o hospital volte a caminhar com as próprias pernas no futuro.
“A prefeitura não quer tomar conta da Santa Casa”, ressalta Neto Leoni. “Queremos devolver a Santa Casa para a população de Bariri”, complementou Fábio Zenni, escolhido como interventor do hospital.
Na noite de segunda-feira, dia 10, houve reunião com médicos. Eles foram unânimes em dizer que ficaram alijados das discussões sobre a Santa Casa de Bariri assim que a Vitale Saúde assumiu a gestão da unidade. Na ocasião, Zenni anunciou que os serviços de fisioterapia retornarão com Vanderleia Paleari Faiolli.
Rodrigo Felício Zanuto de Oliveira, presidente do Conselho Municipal da Saúde, relatou que recebia reclamações constantes de usuários, funcionários e médicos sobre a forma de trabalhar, a falta de funcionários e de condições para os atendimentos com qualidade, carência de medicamentos e de suprimentos básicos.
Sob a nova gestão, a Santa Casa continuará com os mesmos recursos para administração das partes ambulatorial e de internação (R$ 215 mil por mês via SUS) e para o pronto-socorro (R$ 350 mil por mês oriundos dos cofres públicos municipais).