
“Quando o câncer de mama é detectado precocemente, com tumores menores que 2 centímetros, as chances de cura ultrapassam 99%” (Divulgação)
O Outubro Rosa é um movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama. Para tratar do assunto, o Candeia entrevista nesta edição o médico mastologista Guilherme Novita, da Hapvida e presidente eleito da Sociedade Brasileira de Mastologia para o triênio 2026-2028. Segundo ele, o importante é compreender que o câncer de mama não é uma condição totalmente evitável, mas alguns hábitos podem reduzir o risco e favorecer o diagnóstico precoce. “O importante é ter em mente que o medo do câncer não deve ser maior que o cuidado com a própria saúde. Prevenir é se cuidar todos os dias”, afirma o médico.
Candeia – Quais as principais causas do câncer de mama?
Guilherme Novita – É difícil dizer quais são as principais causas de câncer de mama. O câncer de mama tem origem multifatorial, ou seja, não existe uma única causa. Cerca de 20% das mulheres diagnosticadas têm histórico familiar ou mutações genéticas que aumentam o risco. No entanto, a maioria dos casos (80%) ocorre em mulheres sem antecedentes familiares, o que mostra que há influência de fatores ambientais, hormonais e biológicos. Algumas condições podem elevar levemente o risco, como menarca precoce (primeira menstruação antes dos 12 anos), menopausa tardia, gravidez após os 30 anos ou ausência de amamentação. Ainda assim, esses fatores não determinam a doença, é uma variável pequena. Também merecem atenção o excesso de peso após a menopausa, o consumo de bebidas alcoólicas e o uso de hormônios sem orientação médica, como estrógeno, progesterona e até mesmo a testosterona. O importante é compreender que o câncer de mama não é uma condição totalmente evitável, mas alguns hábitos podem reduzir o risco e favorecer o diagnóstico precoce.
Candeia – Que fatores favorecem o surgimento da doença?
Guilherme Novita – O câncer de mama é mais comum em mulheres acima dos 50 anos. Quanto mais tempo vivemos, maior a chance de que surjam alterações celulares que podem levar ao câncer. Em países desenvolvidos, onde as pessoas vivem mais e têm melhor acesso à saúde, a incidência da doença tende a ser maior. Isso acontece porque, nestes países, as mulheres têm menos filhos, começam a menstruar mais cedo e entram na menopausa mais tarde, usam uma quantidade maior de hormônios, seja em anticoncepcionais hormonais, terapia de reposição hormonal da menopausa e até o uso de androgênios. Esse cenário é diferente de zonas mais remotas, que apresentam expectativa de vida menor e, muitas vezes, a mulher não cega a desenvolver câncer de mama.
Candeia – Quais são os principais sintomas? É possível notar algo ao tocar os seios?
Guilherme Novita – Nos estágios iniciais, a maioria dos casos não apresenta sintomas. Por isso, a mamografia anual a partir dos 40 anos é fundamental. Quando o tumor se torna palpável, ele já pode estar maior, o que reduz as chances de cura. O ideal é não esperar surgirem os sintomas, e sim fazer exames de imagem periódicos. Todas as mulheres com mais de 40 anos deve realizar anualmente a mamografia. No surgimento de sinais como nódulos palpáveis, endurecimento, inflamação ou aspecto rugoso na pele da mama, saída de líquido com sangue ou transparente pelo mamilo, a mulher deve procurar um médico.
Candeia – Que medidas podem ser tomadas no dia a dia para prevenir a doença?
Guilherme Novita – Manter hábitos de vida saudáveis é essencial. Isso inclui alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, evitar o consumo excessivo de álcool e manter o peso adequado. Essas atitudes contribuem não apenas para prevenir o câncer de mama, mas para melhorar a qualidade de vida de forma geral. O importante é ter em mente que o medo do câncer não deve ser maior que o cuidado com a própria saúde. Prevenir é se cuidar todos os dias.
Candeia – Quando a mulher deve fazer a mamografia?
Guilherme Novita – A mamografia deve ser realizada anualmente a partir dos 40 anos, mesmo sem sintomas. O exame deve ser mantido, pelo menos, até os 75 anos, e pode continuar sendo feito depois disso, caso a mulher tenha boa saúde e expectativa de vida longa. Vale lembrar que a maioria dos casos iniciais não causa dor nem alterações visíveis, por isso o exame preventivo de rotina é o principal aliado na detecção precoce.
Candeia – O uso de próteses de silicone está relacionado ao câncer de mama?
Guilherme Novita – Não. As próteses de silicone não aumentam o risco de câncer de mama. O que houve há alguns anos foi a identificação de um tipo raro de linfoma, chamado linfoma anaplásico de grandes células, associado a um modelo específico de prótese. Mesmo assim, trata-se de uma ocorrência muito rara: foram registrados cerca de 2 mil casos em um universo de mais de 1 milhão de mulheres com prótese nos Estados Unidos. Ou seja, não há motivo para preocupação nem para retirada preventiva das próteses.
Candeia – Como funciona o tratamento e quais são as chances de cura?
Guilherme Novita – Quando o câncer de mama é detectado precocemente, com tumores menores que 2 centímetros, as chances de cura ultrapassam 99%. O tratamento pode envolver cirurgia, radioterapia e terapias medicamentosas, que incluem quimioterapia, terapia hormonal, terapias-alvo e imunoterapia. Cada caso é avaliado de forma individual. Hoje, na maioria das situações, é possível realizar cirurgias conservadoras, retirando apenas o tumor e preservando a mama. A radioterapia é utilizada para eliminar eventuais células remanescentes. Com os avanços da medicina, o câncer de mama passou a ser uma doença altamente tratável, especialmente quando diagnosticada no início.
























