
SALGUEIRO leva à Sapucaí sobre os índios de nossas florestas, Hutukara “é uma terra, o branco chama de mundo”, e os Yanomami que há mais de 1000 anos vivem em um território ao norte do Brasil e sul da Venezuela, nos estados do Amazonas e Roraima, enquanto os brancos reviram sua terra para tirar de lá as lascas do céu, da lua, do sol e das estrelas que caíram no primeiro tempo dizendo dos povos originários de nosso país, “o Brasil cocar”.
IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE do carnavalesco Leandro Vieira com a proposta de dar continuidade de se debruçar sobre o Brasil a obra de escritores populares, ciganos, que souberam dar contorno à imaginação de caráter fantástico como uma extraordinária vocação do povo brasileiro até inspirado no testamento da cigana Bruges de Esmeralda e seus ensinamentos místicos, e a música surpreende “a Imperatriz desfila com a (bun…), digo, sorte virada prá lua, a Campeã quer o Bi.
MANGUEIRA homenageia a cantora Alcione, 50 anos de carreira, ”a Voz Negra do Amanhã”, dos carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão, “arreda homem que aí vem mulher e aqui o samba não morrerá jamais”, trechos do samba enredo, canto da voz negra, da mulher, de São Luís do Maranhão, a Marron. A Presidente Guanayra Firmino disse que a convidou pessoalmente, esta que já foi homenageada em São Paulo pela Mocidade Alegre em 2018. Maravilhosa, minha Mangueira.
VILA ISABEL reedita “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação” de 1993, ao qual o saudoso Osvaldo Jardim embarcou na própria imaginação rumo a uma viagem fantástica partindo de uma narrativa fictícia, com a criatividade e sua sensibilidade que propôs uma reflexão muito atual sobre nosso planeta: as mazelas que os humanos fazem à Terra e a possibilidade de nos salvarmos por meio das crianças e sua candura. Agora em releitura por Paulo Barros num tema que permanece atual, dentro do contexto em que vivemos, com o samba de Martinho da Vila, “Gbalá é resgatar, salvar, a criança é a esperança de Oxalá”. Lindo, samba extraordinário, prá refletir e até chorar.
PADRE MIGUEL “Pé de caju que dou, pé de caju que dá” é o enredo da Escola, música do humorista Adnet e outros, o caju servido de bandeja com a dose de feitiço, na caipirinha deliciosa, carne de caju do poeta Alceu Valença na Tropicana, nódoa que mancha, a suculência agridoce que seduz os lábios, o fruto no duro está no alto e depois a castanha, hum, salgada, com cerveja digo com certeza, a Mocidade crava os dentes em carne de caju para saborear a essência da alma do Brasil; “Meu caju, meu cajueiro, pede um cheiro que eu dou, o puro suco do fruto do meu amor, é sensual”, maravilhoso.
BEIJA FLOR com o enredo sobre as nobrezas de Maceió, de Nilópolis e da Etiópia num encontro mágico de personagens reais, mas que nunca se viram, guiados pela luz dos encantados e da ancestralidade, com as cores, os ritmos e os pisados dos folguedos das Alagoas, a profecia do encontro de realezas, que hoje coroam Gonguila, imperador do Carnaval de Maceió, é o triunfo da cultura popular, em um esfuziante banho à fantasia nas águas de infinitos azuis. Neste congraçamento, todo mundo é rei e rainha. Basta se deixar levar por um delírio de Carnaval, abrindo a gira, começar os trabalhos.
PORTO DA PEDRA com o enredo “O Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular’’, que celebrará o saber e seus ensinamentos e desdobramentos, pelos carnavalescos Mauro Quintaes e pelo enredista Diego Araújo, reconhecendo o valor da sabedoria popular, elo da razão e do misticismo, segredo dos segredos, conhecimento ou bruxaria, é a mística, alquimia dos saberes.
GRANDE RIO anuncia que “Nosso destino é ser onça” aludindo aos mitos indígenas e simbologias do felino, símbolo da fauna brasileira na cultura do país, ou de “nossa Dona Onça”, enredo criado pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, é inspirado no livro “Meu destino é ser onça”, do escritor Alberto Mussa, interessante.
UNIDOS DA TIJUCA embarca em uma viagem a uma Portugal mítica e mística repleta de fábulas num enredo que contará, em clima de encantamento, fatos, mistérios e lendas populares que pairam sobre a formação dessa nação, é claro um dos protagonistas será o “Fado”, que em seus múltiplos significados, além de representar o gênero musical típico lusitano, “Conto de Fada” se torna “Conto de Fado”, o lúdico e o imaginário interagem com as histórias narradas, inventadas, repaginadas.
PORTELA cultua na Sapucaí a Ancestralidade no sagrado feminino, no terreiro da mãe de todas as outras que vieram depois, a Iyá centenária baseado no romance “Um Defeito de Cor”, da escritora Ana Maria Gonçalves, o enredo traz uma outra perspectiva, refazendo os caminhos imaginados da história da mãe preta, Luiza Mahim, trajetória de uma negra matriarca que se confunde a tantas outras até os dias de hoje que através de seu filho, Luiz Gama, temos o sonho de como onde o importante abolicionista responde a sua mãe sobre o legado da memória que ela deixou: o livro.
PARAISO DO TUIUTI narra a “Gloria do Almirante negro” letra do Moacyr Luz e outros, cita no Brasil entre o crepúsculo do século dezenove e alvorada do século 20, salve o Almirante Negro (O mestre sala dos mares), a eterna musica de João Bosco e Aldir Blanc, o herói do povo erguido em bronze que assentou praça de frente para a Baía de Guanabara, contra a chibata que ainda insiste em ser acionada em nossa sociedade atualmente, e remete em brado que enquanto houver quem defenda ditaduras haverá uma chibata empunhada, afinal não faz muito tempo isso.
VIRADOURO conta com o carnavalesco Tarcisio Zanon o “Arroboboi Dangbé” com a predição do oráculo, senhor de todos os conselhos, prenuncia um tempo de grandes batalhas, tempo de luta e tempo de vitória, a manutenção das crenças dos povos da região da Costa da Mina vive na perseverança das sacerdotisas voduns, mulheres escolhidas e iniciadas em ritos de louvor à serpente sagrada, cujas trajetórias místicas se entrelaçam em combates épicos, camuflagens táticas e resiliência vital.
Cássio Aguiar
























