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Na área de Odontologia, a qual Kamilly pertence, são realizadas extrações dentárias, tratamentos odontopediátricos, orientação de higiene (Foto Divulgação)

Salta aos olhos a importância do atendimento para a população Na comunidade ribeirinha, diversas famílias viajaram horas de barco para encontrar os alunos (Foto Divulgação)

A estudante de Odontologia, Kamilly Foloni, nasceu em Jundiaí, mas viveu a maior parte dos seus 21 anos em Bariri, onde sua família reside.
Ela cursa o quarto ano da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP) e no início desse ano participou do Projeto FOB USP em Rondônia, de 18 de janeiro a 5 de fevereiro.
Foi a 44ª expedição promovida pela FOB para Monte Negro, município do estado de Rondônia, e a 11ª expedição para Calama, que é um distrito do município de Porto Velho, capital do estado de Rondônia.
Participaram das expedições 30 alunos de graduação, sendo 10 alunos de cada um dos cursos de Odontologia, Fonoaudiologia e Medicina, além de 8 funcionários, 6 professores e 11 alunos de pós-graduação.
Em entrevista ao Candeia, Kamilly conta que logo que ingressou na faculdade soube da expedição e projetou participar. “Acompanhei os prazos e aproveitei o tempo da graduação para aprender estratégias de manejo com o paciente caso eu conseguisse participar da expedição”, relata.
A viagem já uma aventura. A expedição teve início no dia 18 de janeiro às 5h, saindo da universidade, com chegada em Monte Negro (RO) no dia 20 de janeiro ao meio-dia. Foram 55 horas percorridas até RO. Sendo o retorno estimado em 63 horas de viagem – partida de Calama a Bauru no dia 3 de fevereiro com chegada no dia 6 de fevereiro. Contando com a viagem, o projeto durou 20 dias. Foram percorridos 2.560 km para alcançar Monte Negro, situado a 260 km de Porto Velho.
Na primeira semana, os atendimentos são realizados na cidade de Monte Negro e na segunda semana ocorrem na comunidade ribeirinha de Calama, distrito do município de Porto Velho, capital do estado de Rondônia. Detalhe: Calama é o distrito de Porto Velho com a maior comunidade ribeirinho com Complexo do Baixo Madeira. Para ter acesso a essa comunidade é preciso percorrer 15 horas de barco.
Na área de Odontologia, a qual Kamilly pertence, são realizadas extrações dentárias, tratamentos odontopediátricos, orientação de higiene, entre outros atendimentos. Nos nove dias de atendimento, as três áreas puderam juntas atender mais de 4 mil pacientes nas linhas de frente (Monte Negro e Calama).
Para a estudante, viajar em condições tão distantes é uma imersão em outra realidade. “Poder embarcar em uma viagem, em mais de três dias de estrada, exige muita determinação para as mudanças encontradas durante o trajeto”, pondera a estudante.
Kamilly admite que em questão de logística o programa precisa de ajustes. “Ainda se gasta mais tempo com a viagem do que com o próprio tempo de atendimento. É necessário se obter incentivos financeiros para os meios de transportes oferecidos à equipe do projeto, de modo a superar qualquer limite ou distância encontrada para as futuras expedições”, opina a estudante.
Segundo ela, salta aos olhos a importância desse atendimento para a população, que espera com ansiedade talvez o único atendimento que encontra.” Na comunidade ribeirinha, diversas famílias viajaram horas de barco para encontrar os alunos. Mesmo a chuva e outros desafios, como trajetos de risco, não reduziram a resiliência da população que procura por ajuda”, relata.
Kamilly comenta que os procedimentos foram de intervenções mais drásticas. Apesar dos anos de ações naquela região, ainda é realidade a extração de inúmeros dentes. Segundo ela, é um reflexo da dificuldade de conscientização, um trabalho que ainda exige esforços das próximas expedições. “Foi marcante um procedimento que fiz em menina de 11 anos. Fiz uma cirurgia de múltiplas extrações de dentes permanentes. E ao conversar com os responsáveis, soube que não tinham conhecimento de que seriam dentes que não teriam outros no lugar. A família pensava ser os “dentes de leite”. Foi um momento de lamento e choque de realidade”, relata.
Para Kamilly valeu a pena cada dia percorrido no projeto. “Ter contato direto e humanizado foi a expressão máxima das lições aprendidas em saúde coletiva”, analisa.
Após a expedição, passou a trabalhar em eventos de extensão dentro da faculdade.
Foi aceita no grupo de extensão da liga acadêmica de ciências odontológicas fundamentais, que promove ações como a campanha de autodiagnostico de lesões potencialmente malignas, ensinando a população a perceber sinais de câncer de boca.
Depois da formatura no final de 2024, projeta realizar residência voltada em aperfeiçoamento da área odontológica, como a residência multiprofissional oferecida pelo HRAC – Centrinho. “Depois da expedição, meu carinho pelo atendimento odontopediátrico apenas aumentou”, admite.