Composição 1_1
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“Os fatores de risco são muito comuns e cada vez mais frequentes na população de forma geral, o que acarreta um grande número de casos ano a ano” (Divulgação)

Com foco no Outubro Rosa, cujo objetivo principal é alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e mais recentemente sobre o câncer de colo do útero, o Candeia entrevista o médico João Ricardo Auler Paloschi. Segundo ele, os fatores de risco são cada vez mais frequentes na população, como obesidade, sedentarismo, etilismo, estresse crônico, uso de medicações hormonais sem controle ou orientação médica, esse estilo de vida “moderno” com alimentação hipercalórica, rica em gorduras saturadas, multiprocessadas, entre outros. “Infelizmente a tendência é sua ocorrência continuar aumentando em nossa população”, afirma ele, destacando que a prevenção deve ser constante. Paloschi é gestor do departamento de mastologia do Hospital Amaral Carvalho (HAC), de Jaú, e membro da Comissão de Oncoplastia e Reconstrução Mamária da Sociedade Brasileira de Mastologia.

Candeia – Como surge o câncer de mama?
João Ricardo – O câncer de mama surge de uma alteração celular no seu processo de multiplicação, quando o ciclo celular normal não é mais seguido. Ou seja, essa célula tumoral perde a capacidade de se comportar de uma forma esperada, passa a se multiplicar sem controle e sem função mais definida. Os motivos para isso são variados e não totalmente compreendidos ainda pela ciência. Fatores ambientais, genéticos, estilo de vida entre outros fazem parte desses fatores.

Candeia – Excluindo os tumores de pele, por que o câncer de mama é o mais prevalente em mulheres?
João Ricardo – O câncer de mama é o mais incidente na mulher após os cânceres de pele do tipo não melanoma. O motivo para isso parece ser pelos fatores de risco. Esses fatores são muito comuns e cada vez mais frequentes na população de forma geral, o que acarreta um grande número de casos ano a ano. Esses fatores incluem obesidade, sedentarismo, etilismo, estresse crônico, uso de medicações hormonais sem controle ou orientação médica, esse estilo de vida “moderno” com alimentação hipercalórica, rica em gorduras saturadas, multiprocessadas, entre outros. Infelizmente a tendência é sua ocorrência continuar aumentando em nossa população.

Candeia – Como é feito o diagnóstico do câncer de mama?
João Ricardo – O diagnóstico pode ser feito por imagem, quando ele ainda não é perceptível ao exame físico e essa é a forma ideal. Isso porque o tamanho seria mínimo e, consequentemente, as condições de tratamento e cura são mais simples e eficientes. A cura nessas circunstâncias se aproxima de 100% com tratamentos cirúrgicos e medicamentosos mínimos. A mamografia e a ultrassonografia são os dois métodos mais empregados para tal. Entretanto, numa consulta com o mastologista, exames adicionais dependendo de cada caso podem ser também utilizados. Quando a paciente apresenta clínica suspeita para câncer de mama, como um nódulo, uma retração cutânea ou do mamilo, gânglios axilares endurecidos, entre outros sinais e sintomas, a consulta com o mastologista é fundamental. Ele vai avaliar cada caso e individualizar como investigar e indicar uma punção para definir o diagnóstico quando necessário.

Candeia – Quais os tipos de tratamento e as chances de cura?
João Ricardo – O tratamento do câncer de mama envolve normalmente algumas modalidades diferentes que serão utilizadas de acordo com cada caso. É um tratamento individualizado. Essas modalidades são a cirurgia, o mais importante dos tratamentos, mas também a quimioterapia, a radioterapia, a hormonioterapia, os anticorpos monoclonais, a imunoterapia, entre outros. Os tratamentos se somam e conjuntamente servem para reduzir drasticamente as probabilidades de recidiva local e/ou metástase à distância. As probabilidades de cura se relacionam ao tipo de câncer encontrado, assim como ao grau de avanço da doença no momento do diagnóstico. Ela pode variar muito, como de 10% a 20% de cura nos casos avançados, até quase 100% nos casos iniciais. Por isso e por outros motivos a prevenção é de imensa importância.

Candeia – Quando e como fazer o autoexame da mama?
João Ricardo – O autoexame das mamas deve ser realizado uma vez ao mês. Para as mulheres que menstruam, depois da menstruação, quando as mamas estão menos dolorosas e ingurgitadas. Para as mulheres que não mais menstruam, sugiro escolherem um dia do mês para não se “perderem” dentro do mês. O autoexame das mamas serve basicamente para a mulher se conhecer. É o autoconhecimento. Se ela observar no referido exame alguma alteração importante em relação ao exame do mês anterior, ela deve procurar atendimento mastológico.

Candeia – Como prevenir o câncer de mama?
João Ricardo – A prevenção do câncer de mama pode ser dividida basicamente em duas formas. A prevenção primária, em que tomamos atitudes para reduzir o risco de se desenvolver o câncer de mama no futuro. Isso inclui manter atividade física regular, permanecer no peso ideal, alimentar-se basicamente de frutas, verduras, legumes, carnes magras, reduzindo produtos industrializados, hipercalóricos e com grande porcentagem de gordura animal. Ainda, reduzir o consumo de álcool, abolir o tabagismo, reduzir o estresse, entre outras medidas. Essas atitudes reduziriam até 30% dos riscos. A outra forma de prevenção é chamada prevenção secundária. Ela não reduz a chance de desenvolver a doença, mas permite o diagnóstico precoce da doença em quem se dispõe a fazê-lo. Envolve a realização de consulta médica e exames de imagem das mamas, que podem surpreender um câncer entre um ano e outro, ou seja, muito precocemente. Dessa forma, o tratamento será muito mais “leve”, com cirurgias muito pequenas e, às vezes, nem precisando de tratamentos adicionais, como já foi dito, trazendo probabilidades enormes de cura.

Candeia – Qual o peso de fatores hereditários, comportamentais e ambientais nesse tipo de câncer?
João Ricardo – O peso desses fatores citados depende de cada caso. Não é um valor padrão. Como diz o ditado, “cada caso é um caso”. Essa análise é realizada pelo mastologista em uma consulta, considerando toda a história da paciente, pessoal e familiar, a clínica apresentada, o exame físico realizado, exames de imagem atuais e comparação com anteriores, entre outros fatores. Essa é uma avaliação complexa e não exata.