Marcos Roberto Colombo Barnese
“O acompanhamento médico e o controle das doenças que podem agredir o rim são de extrema importância”
O Dia Mundial do Rim foi comemorado anteontem, dia 14. Em relação à data, a Santa Casa de Jaú promove nesta e na próxima semana palestras com o intuito de aumentar a conscientização sobre a alta e crescente presença de doenças renais no mundo inteiro, bem como a necessidade de prevenção dessas doenças. Diferente de anos anteriores, quando o foco foi direcionado (mulher, criança ou idoso), em 2019 a campanha busca uma cobertura universal de saúde para prevenir a Doença Renal Crônica (DRC) em todas as idades, visando um tratamento precoce. Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), estima-se que haja atualmente no mundo 850 milhões de pessoas com DRC, decorrente de várias causas, com uma taxa crescente em torno de 2,4 milhões de mortes ao ano. Para o médico nefrologista da Santa Casa de Jaú Marcos Roberto Colombo Barnese, que está ministrando palestras sobre o tema, há vários fatores que podem comprometer o funcionamento dos rins: a desidratação é um deles. Outro fator diz respeito aos cuidados com doenças que podem afetar os rins, como hipertensão arterial e diabetes.
Candeia – O que é Doença Renal Crônica (DRC) e quais suas principais causas?
Barnese – A Doença Renal Crônica se caracteriza por perda lenta e gradual da função renal, geralmente silenciosa e irreversível, estando associada a doenças que agridem o rim com o passar dos anos. No nosso meio o mais comum é a hipertensão arterial sistêmica e o diabetes. Outras doenças menos frequentes são glomerulopatias, doenças císticas do rim, nefrite intersticial, doenças hereditárias, metabólicas e neoplasias. Normalmente quando o rim atinge 10% a 15% de sua capacidade torna-se necessário o início de terapia dialítica: hemodiálise ou diálise peritoneal.
Candeia – É possível prevenir essa doença? Como?
Barnese – Prevenção. Não existe uma droga que possa melhorar o rim com insuficiência renal crônica. O que existe são medidas clínicas que ajudem a minimizar os fatores e doenças que possam agredir o rim. Primeiramente o acompanhamento regular com o profissional de saúde e exames simples de sangue e urina são suficientes para o acompanhamento. Torna-se necessário o controle rigoroso das doenças que possam estar agredindo o rim como hipertensão e diabetes. Dieta balanceada é essencial para minimizar a agressão renal e evitar uso de medicamentos que possam agredir o rim.
Candeia – A partir de alguma idade as pessoas devem ter uma preocupação maior com os rins? Por quê?
Barnese – A partir dos 40 anos é normal que o rim diminua sua função de maneira muito lenta. Independentemente da idade, o acompanhamento médico e o controle das doenças que podem agredir o rim, como a hipertensão e diabetes que têm aparecido cada vez mais cedo na população, são de extrema importância. Também considero importante para evitar consequências futuras negativas a dieta balanceada desde a infância.
Candeia – No dia a dia que medidas as pessoas devem adotar para manter o bom funcionamento dos rins?
Barnese – No dia a dia considero importante a ingesta hídrica, evitando assim a desidratação, evitar exageros dietéticos e o controle das doenças subjacentes (hipertensão e diabetes se houver).
Candeia – Qual a importância da hidratação? É necessário ingerir somente água ou outros tipos de líquidos?
Barnese – A hidratação é de suma importância, pois a desidratação pode ocasionar sérios problemas ao rim. Não há uma regra do quanto beber diariamente ou o que beber. De um modo geral, as maiores perdas (calor, exercício físico entre outras condições) exigem maiores ingestas hídricas, sendo que o mais natural normalmente é o melhor.
Candeia – Qual o maior inimigo dos rins? Qual o peso das bebidas alcoólicas, incluindo a cerveja, no funcionamento dos rins?
Barnese – Além da desidratação, os maiores inimigos do rim são as doenças e substâncias que podem agredir esse órgão, como a hipertensão, diabetes, uso excessivo de sal, de proteínas (cuidado com os suplementos alimentares) anabolizantes, drogas ilícitas e medicamentos nefrotóxicos. Em relação ao álcool, apesar de alguns artigos relacionarem a diminuição da formação de cálculos renais com o uso de cerveja, não há uma dose segura para que ocorra esse benefício. Doses maiores de álcool podem promover desidratação através da ativação do hormônio antidiurético. Uma alternativa interessante para minimizar o efeito do álcool no rim tradicionalmente utilizada pelos imigrantes italianos é a ingestão da água com a bebida alcoólica. No caso, o vinho tinto com a água mineral.
Box: Saiba mais sobre o entrevistado
Marcos Roberto Colombo Barnese é nascido em Jaú e formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Possui residência médica de clínica e nefrologia pela Universidade Federal Fluminense, título de especialista pela AMB e mestrado e doutorado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Atuou como estafe do Serviço de Nefrologia do Hospital Federal da Lagoa e do Hospital das Américas no Rio de Janeiro e como professor de nefrologia da Faculdade de Medicina da Universidade Gama Filho. Atualmente chefia o Serviço de Nefrologia da Santa Casa de Jaú.