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Entrevista da Semana: ‘O Taleme é um tesouro cultural que só existe em Bariri’

3 out, 2025

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“Fiquei impressionado com o fato de um prato tão característico existir apenas em Bariri. É realmente uma joia cultural” (Divulgação)

Autor de Brimos (Fósforo, 2021), que narra a trajetória da imigração sírio-libanesa no Brasil e suas conexões com a política, e de Brimos à Mesa – Histórias da Culinária Árabe no Brasil, que mergulha nas memórias e identidades preservadas pela comida, Diogo Bercito vem se consolidando como um dos principais nomes do país na pesquisa sobre a presença árabe em nosso cotidiano. Jornalista, escritor e doutorando em História na Universidade Georgetown (EUA), ele já foi correspondente da Folha de S.Paulo em Jerusalém e Madri, escreveu o roteiro da graphic novel Rasga-Mortalhas (Zarabatana, 2016), indicada ao Jabuti, e hoje dedica sua pesquisa acadêmica às interseções entre imigração, memória e cultura. Em conversa com o Candeia, Bercito detalhou curiosidades de sua trajetória, falou sobre como a comida pode contar histórias e revelou a descoberta que o conectou diretamente a Bariri: o taleme, preparo local que nasceu a partir da imigração e se tornou um símbolo único da cidade. “O taleme é um tesouro cultural que só existe em Bariri”, resume.

Candeia – Você lançou dois livros de grande relevância: Brimos, sobre a imigração sírio-libanesa e sua influência na política brasileira, e Brimos à Mesa, que reconstrói a história dessa comunidade por meio da culinária. Para quem ainda não conhece sua obra, como você resume o conteúdo de cada um e o que motivou a transição entre o primeiro e o segundo livro?
Diogo Bercito – Brimos conta a história da imigração sírio-libanesa e de outros povos de fala árabe no Brasil, do fim do século XIX ao início do XX, com foco em famílias que chegaram à política (como as de Michel Temer, Fernando Haddad, Paulo Maluf, Gilberto Kassab, Guilherme Boulos e Jandira Feghali). No segundo livro, Brimos à Mesa, eu sigo essa trajetória pela culinária: pratos, ingredientes, restaurantes e memórias ao redor da mesa, mostrando como a comida marca identidade e pertencimento. A mudança de foco não foi ruptura, mas continuidade: percebi que a história da comunidade árabe no Brasil também pode ser contada pelo que comemos.

Candeia – A comida é mesmo uma forma de contar história?
Diogo Bercito – Sem dúvida. A comida não é apenas alimento, mas linguagem cultural. Cada prato guarda memórias, adaptações e até resistências. No Brasil, ingredientes foram substituídos, receitas se transformaram e nasceram versões próprias que dizem muito sobre identidade. A mesa foi um espaço de encontro entre imigrantes e brasileiros, de adaptação ao novo país e também de manutenção das raízes.

Candeia – Que adaptações a culinária árabe sofreu no Brasil?
Diogo Bercito – O exemplo clássico é o quibe: no Líbano e na Síria, o tradicional é com carneiro (inclusive o quibe cru). No Brasil, virou majoritariamente carne bovina. Também surgiram inovações familiares, como uso de hamburana em sambousek, farinha de mandioca no harissa, ou o quibe cru “verde”, carregado de hortelã e salsinha. São criações brasileiras que mostram como tradição e criatividade caminham juntas.

Candeia – Quando e por que se deu a imigração árabe para o Brasil?
Diogo Bercito – Começou nos anos 1870–1880, cresceu em 1900–1910 e diminuiu depois dos anos 1930–40. O principal motivo foi econômico: a crise da seda no Monte Líbano, agravada por guerras, fome e pobreza, levou milhares de famílias a buscar oportunidades. O Brasil, ao lado de Argentina e EUA, foi um dos principais destinos.

Candeia – E como se distribuiu essa comunidade no território brasileiro?
Diogo Bercito – Houve forte presença em São Paulo, Rio e Minas, mas com grande dispersão: imigrantes se estabeleceram na Amazônia, Nordeste, Sul e Centro-Oeste. Muitos atuaram como mascates, vendendo de porta em porta, o que os fez circular pelo país. Há uma frase comum: “não existe cidade no Brasil sem um primo árabe”.

Candeia – Onde entra Bariri nessa história gastronômica?
Diogo Bercito – Ao pesquisar no interior paulista, conheci a história do taleme. Trata-se de uma versão local de “esfirra” feita com fubá na massa — algo sem paralelo na culinária árabe como é praticada no Líbano ou na Síria. A família Jacó é lembrada como pioneira, especialmente dona Judite Jacó, que improvisava com sobras de massa e recheios. Esse preparo se popularizou e virou marca registrada da cidade. Para mim, o taleme é um símbolo de Bariri e um exemplo de como a imigração cria novas tradições.

Candeia – O nome taleme tem origem conhecida?
Diogo Bercito – No Líbano existe algo chamado taleme, mas não é esse prato. Minha hipótese é que o nome tenha vindo de lá e tenha sido adaptado aqui, junto com a receita, em função dos ingredientes disponíveis. O resultado é uma versão original de Bariri, um patrimônio gastronômico único.

Candeia – Além do taleme, que outros elementos ligados à imigração árabe em Bariri chamaram sua atenção?
Diogo Bercito – A Igreja Ortodoxa de Bariri é lindíssima e histórica, uma das primeiras ligadas à comunidade síria no Brasil. Preservá-la e integrá-la ao turismo é fundamental. Junto com o taleme, ela pode colocar Bariri no mapa da imigração árabe e atrair visitantes interessados em cultura e história.

Candeia – Qual foi a reação ao descobrir o taleme?
Diogo Bercito – Foi surpresa e encanto. Pesquisadores locais, como Miguel Martínez, me apresentaram a tradição e percebi o quanto ela é especial. Fiquei impressionado com o fato de um prato tão característico existir apenas em Bariri. É realmente uma joia cultural.

Candeia – Há registros de receitas no livro?
Diogo Bercito – Sim. Incluí a receita do taleme, coletada com base nos relatos da família Jacó, especialmente pelos filhos da dona Judite, Mauro e Ibrahim, além da contribuição da dona Norma Cury. Reuni as versões em uma receita “unificadora” para preservar essa herança.

Candeia – Que mensagem você deixa para a comunidade de Bariri?
Diogo Bercito – Preservem o taleme e a igreja. São parte da história do país, da imigração árabe e da identidade do interior paulista. Tradições assim sempre correm risco de desaparecer, mas carregam muito valor cultural. Guardem as receitas, contem as histórias, celebrem o que é de vocês.

Candeia – Onde encontrar seus livros?
Diogo Bercito – Estão disponíveis no site da Editora Fósforo, na Amazon e em livrarias de todo o Brasil. Para quem está no interior, a compra online é a forma mais prática.

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